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Polêmico, creme promete clarear pele negra em uma semana

22 mai 2014 - 08h00
(atualizado em 8/12/2014 às 19h52)
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Cantora nigeriana Dencia é uma das criadoras do creme Whitenicious,   que promete clarear pele negra e morena em até sete dias
Cantora nigeriana Dencia é uma das criadoras do creme Whitenicious, que promete clarear pele negra e morena em até sete dias
Foto: Reprodução

Grande sucesso na África Ocidental, o creme Whitenicious promete clarear peles morenas e negras em apenas sete dias, deixando-as livres da hiperpigmentação, de manchas escuras e até de acnes. O produto foi desenvolvido e está sendo promovido pela popstar nigeriana Dencia - até então negra -, que utilizou o cosmético em todo o corpo e apresentou um resultado surpreendente ao exibir a cútis muito mais clara.   

Não fosse só o debate étnico sobre a discussão em torno do desejo de clarear a pele, a polêmica ainda gira em torno da formulação do produto, já que o site responsável por sua venda exclusiva no mundo inteiro traz poucas informações sobre os ativos usados em sua composição, como a aloe vera e as vitaminas C e E que, quando utilizadas em conjunto, proporcionam a despigmentação cutânea de um modo não agressivo, segundo o fabricante. 

Especialistas brasileiros, no entanto, não estão convencidos de que o produto não ofereça nenhum tipo de risco, inclusive cancerígeno, já que o uso da vitamina C em grande quantidade pode provocar alguns tipos de câncer de pele.  Joyce Quenca, cosmetóloga e farmacêutica da Biodiversité, localizada no Paraná, afirma que é praticamente impossível o clareador apresentar tal resultado em tão pouco tempo. Ela explica que, de acordo com a composição descrita no site, os resultados não podem ser tão expressivos como os apresentados, pois os ingredientes empregados atuam de forma suave.

Isso porque as vitaminas C e E associadas, mesmo agindo como despigmentantes, uniformizando a coloração da pele, tendem a oferecer uma ação muito mais preventiva do que clareadora, estimulando a síntese de colágeno na cútis, o combate aos radicais livres e a proteção contra os efeitos causados pela radiação UV. 

“Apesar disso, o creme demonstra ser capaz de clarear a pele. Só não sabemos, no entanto, qual será o preço pago no futuro por esse clareamento, já que a composição não é suficientemente clara para avaliarmos o seu mecanismo de ação e seu possível potencial cancerígeno”, alerta.

Ingrediente secreto

O resultado apresentado por Dencia é tão surpreendente que fica difícil acreditar que ele tenha sido obtido apenas com os componentes descritos em sua formulação. “É cientificamente impossível obter resultados tão rápidos em tão pouco tempo. O que deve existir, na verdade, é um ingrediente ‘secreto’, não divulgado, que promove esse efeito. De acordo com a literatura científica, um efeito tão transformador pode ser causado somente por substâncias que agridem a pele e que podem ser precursores no aparecimento de câncer de pele”, afirma Joyce.

Mesmo não sendo citada na composição química do produto, a cosmetóloga suspeita que haja na composição do creme a hidroquinona - substância clareadora que promove a morte das células responsáveis pela produção de melanina e que impede a repigmentação da pele no caso de surgimentos de manchas brancas. “Parcela significativa dos usuários relatam que a pele fica totalmente sensibilizada após o uso do produto. Para que a promessa da eficácia em sete dias seja cumprida, acredito que ele apresente uma concentração de hidroquinona acima de 4%, que pode aumentar seriamente os riscos de câncer, ou então, a presença de esteroides”, diz a especialista.

Cunho social

Um dos pontos mais discutidos com o surgimento do creme foi a questão social. De acordo com Dencia, o cosmético proporciona um bem-estar maior a suas usuárias, uma vez que a pele é clareada e elas passam a não sofrer mais com o racismo. Em seu site, a popstar afirma que a contínua marginalização dos descendentes africanos, homens e mulheres no mercado mundial de produtos de beleza a levaram à inspiração do artigo, criado em parceria com um renomado químico. 

Para Joyce, isso é um agravante muito significativo na hora de avaliar o uso do produto. “Ele promete, a me ver, uma nova vida aos usuários, pois pretende ser a solução para o racismo. Afinal, próprio site do fabricante relata a marginalização da classe negra e autoestima desses jovens. Acredito que a solução para o racismo seja um problema social e não cosmético. A beleza está na diversidade, nas várias raças e tonalidades distintas”, analisa a especialista. Ela completa dizendo que o problema da autoconfiança está além da mudança da cor da pele, mas sim na aceitação e realce da beleza negra.

Fonte: Agência Hélice
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